Nelson Almeida Taboada nasceu em Salvador, a 17 de maio de 1941, dia de São Pascoal Baylon, santo espanhol. Foi batizado no Rio Vermelho, em 13 de setembro do mesmo ano, pelo cônego Francisco Fernandes, tendo como padrinhos os avós paternos, José Taboada Vidal e Amália Souza Taboada. Na Igreja de Sant’Ana do Rio Vermelho também recebeu a primeira comunhão, ministrada pelo pároco Alcides Barreiros Cardoso, em 13 de setembro de 1949.
Tanto o batizado como a primeira comunhão aconteceram num mesmo dia e mês. Não houve nenhuma coincidência, pois foram programados pelo pai, que nasceu nesse dia e mês e que também se casou num 13 de setembro. Com relação aos estudos, Nelsinho começou no Jardim de Infância Osvaldo Cruz, no Rio Vermelho, tendo cursado o primário no Colégio Nossa Senhora das Mercês, no centro da cidade. O estabelecimento pertencia à ordem das irmãs ursulinas, onde lecionava sua tia, Nilza Taboada. Porém, não foi sua professora. Enquanto fazia o primário, Nelson cursava música no Rio Vermelho, na conceituada Escola de Música Heitor Villa-Lobos, na Travessa Lydio de Mesquita e com um corpo docente dos mais qualificados, formado pelas professoras Maria da Glória Peixoto (teoria musical), Nair Soares (violino), Nilza Didier (piano) e pela diretora Walkyria Melgaço Knittel (violino e piano).
Por ter se destacado como pianista, Nelsinho foi selecionado para compor o grupo da escola que fez uma apresentação exclusiva no salão nobre da Associação dos Empregados do Comércio da Bahia, na tarde do dia 23 de novembro de 1952. Foram 23 números, divididos em duas partes, com 22 jovens pianistas: Annete Maria Berenguer, Aurelina Carvalho, Célia de Castro, Dulce Calmon de Almeida, Emília Maria de Lacerda, Enéas Cavalcanti, Guilhermina Bastos, José Carlos dos Santos, Lise Weckerle, Maria Célia Calmon de Almeida, Maria Tereza Sá Schultz, Marly Batista, Neida Mesquita, Nelson Taboada, Ney Mesquita, Nívia Mesquita, Sylvia Carvalho, Vanda Santos, Walter Melgaço Knittel, Yolanda Lauria, Yvone Mattos e Yvone Torres Homem. Nelsinho executou “Promenade à Ane”, de P. Wachs. Ele e Lise foram os únicos que voltaram ao palco pela segunda vez, para, a quatro mãos, executarem “Entre las Rosas”, de M. Chiesa.
Colégio Antônio Vieira
A busca cada vez mais acentuada pela excelência do ensino ministrado no colégio da Companhia de Jesus, fez o diretor do estabelecimento, o padre português Antônio Oliveira Pinto, optar pela compra, em 1926, de uma grande área perto do Campo Grande.
Sob a responsabilidade da construtora de Emílio Odebrecht, as obras da nova sede foram iniciadas em 1930 e concluídas em 1932. No início do ano seguinte, o Colégio Antônio Vieira trocou o antigo prédio, na Rua Coqueiros da Piedade, pelas majestosas instalações na Rua Leovigildo Filgueiras 683, bairro do Garcia.
Depois de ter feito todo o ginásio e o primeiro ano científico no Colégio Antônio Vieira, Nelsinho convenceu o pai a transferi-lo para o Colégio Mackenzie, um dos mais famosos estabelecimentos de ensino do Brasil. Ficava em São Paulo e seguia orientação religiosa presbiteriana. Filho único, criado com todas as regalias, verdadeiro príncipe nas casas do Rio Vermelho e da Barra, o adolescente sentiu o impacto da mudança, o regime de internato e a ausência da doutrina católica. Quis voltar, mas recebeu dos pais a seguinte carta:
Salvador, 12 de março de 1957.
Querido filho,
Muita saúde e coragem para você!
Tivemos o prazer de receber sua amável carta, enviada por intermédio do nosso amigo Carlos Ortiz, relatando as ocorrências da sua viagem e do seu primeiro dia no Colégio, a qual nos proporcionou muita alegria.
Entretanto, não podemos dizer o mesmo do seu telegrama, que julgamos um tanto irrefletido, comunicando-nos querer voltar, por se achar doente e pedindo-nos para irmos a São Paulo. Francamente, essa sua atitude nos causou tristeza e decepção, tendo nos levado à uma ligação telefônica com esse estabelecimento de ensino, aliás, sem proveito, em virtude do circuito não ter favorecido.
Meu filho, contas atualmente quase 16 anos de idade, justamente a idade limiar da puberdade, na qual o homem se impulsiona entusiasmado e começa a sentir as responsabilidades de tomar em consideração as atitudes próprias e indispensáveis para vencer as distâncias, que o separam do objetivo dos seus ideais, e as dificuldades preliminares que sempre se apresentam na luta pela vida. Peço-lhe, querido filho, que tenha sempre o cérebro como timoneiro do coração. Os ditames do coração – lado afetivo e sentimental – geralmente nos traem. O cérebro, quando refletimos, nos conduz, sem falhar, pelo caminho da felicidade e da glória. Portanto, você deve dominar o sentimentalismo e renunciar – por enquanto – o desejo de viver no paraíso do lar, que o encontrará mais esplêndido ao alcançar a vitória.
A separação transitória do âmbito familiar, dos colegas da terra natal, do círculo das relações sociais, o contato com o meio estranho, a necessidade de recorrer aos colegas de boa formação moral e aos mestres, para esclarecer pontos da matéria didática não compreendidos, e outros fatores que por certo se apresentarão na sua vida de estudante, constituem a luta dignificante da qual você não pode e não deve fugir, porque, ao contrário, será vencido. E como fracassado se tornará merecedor do desprezo dos seus amigos e dos concidadãos em geral.
Você se encontra nesse internato por espontânea vontade e não deve ignorar que da sua reação contra esse seu estado natural, proveniente do afastamento do convívio paterno, depende seu futuro, o qual não deve ser prejudicado por motivos de falsa impressão. Sou, na qualidade de pai, seu maior amigo e, nessa condição, não posso dar-lhe um conselho senão esse que fará de sua pessoa a razão da nossa própria felicidade.
A continuidade dos seus estudos, nesse ambiente salutar e diferente, sob a orientação de reconhecidos educadores, só poderá desenvolver suas qualidades de caráter, inteligência e autodeterminação, fazendo de sua existência uma figura de marcante personalidade. Mas, para isso – não esqueça – é preciso perseverança, renúncia e sacrifício.
Não nos convencemos do seu julgamento precipitado, pois estamos certos de que o ensino ministrado nesse Colégio é considerado de elevado nível intelectual e o melhor do Brasil.
Soubemos que você se acha resfriado e isso, naturalmente, está concorrendo, de certo modo, para o seu esmorecimento e insônia. Porém, esse Colégio dispõe de médico, ao qual deve procurar, pelos trâmites regulamentares, e consultá-lo, para prescrição do medicamento adequado.
Peço sua máxima reflexão diante de suas responsabilidades. Lembre-se que nada se consegue sem sacrifício. Tive uma despesa considerável para efetivar seu internato, ocupando amigos em São Paulo e perdendo precioso tempo nas minhas lides profissionais, cujos esforços, não sendo correspondidos pela sua aplicação e adaptação ao meio estudantil desse Colégio, redundará numa decepção tremenda para seus pais e nossas relações de amizade.
Procure se convencer que não existe outra alternativa, senão continuar nesse Colégio até junho – quando então teremos oportunidade de conversarmos pessoalmente. Tenha como lenitivo os estudos. Torne-se digno dos mestres e de seus colegas, pela aplicação, correção de tratamento e obediência absoluta ao regulamento escolar. Procure elevar-se sem diminuir o próximo, fazer-se respeitar sem ferir susceptibilidade de quem quer que seja. Conseguirás, tenho a certeza, explorando os seus próprios méritos – qualidades que as possui e não as conhece, ainda.
Nas aulas, preste a máxima atenção às explicações dos professores e seja complacente sempre que algum mestre se mostrar para com você um tanto ríspido – isso é natural e não diminui o aluno. Entretanto, a complacência deve ser natural, com seriedade e submisso aos preceitos da ordem regulamentar.
Deve compreender que o tratamento dispensado pelos professores de São Paulo, principalmente de um estabelecimento como o Mackenzie, tem por lógica que ser diferente daquele ambiente de relativa liberalidade das escolas da Bahia, onde os professores, quase na sua totalidade, são pessoas vinculadas aos seus pais por relações de amizade. Mas a vitória conquistada com ambiente favorável nunca é completa e na vida profissional o homem está propenso a fracassar. Se for digno do nome que legamos a você, vencerá as dificuldades e completará o curso científico nessa Escola, saindo então retemperado para o curso superior e nessa etapa subseqüente – em lutas mais árduas – vencer dificuldades maiores, para depois colher os louros da glória. Nessa altura, meu filho, orgulhamo-nos de você, sentindo termos cumprido um dever que é, por excelência, a razão da nossa própria vida: oferecer ao mundo um descendente que, finalmente, desempenhe um papel de relevância na sociedade.
Quanto à religião, deve respeitar aquela que não a professa, tornando-se inabalável dentro das suas convicções católicas. Isso faz parte da personalidade bem definida, não deixar que lhe afastem das suas convicções, embora conviva num meio que não corresponda aos seus sentimentos de religiosidade.
Certos de podermos, em breve, abraçar-lhe – parabenizando-o pela sua compreensão e firmeza – , rogamos a Deus pelo seu completo êxito. Com muitos abraços e beijos de seus pais e recomendações especiais para Mr. Anders, extensivas à Família, bem como ao seu companheiro Elmer e demais colegas.
Nelson e Antonieta
A carta, dura em alguns trechos, mostrando um pai (autor do texto) enérgico no momento certo, serviu como lição de vida para um jovem que pela primeira vez se viu distante da sua cidade, dos amigos e do convívio familiar. Assimilando imediatamente tudo que lhe foi transmitido, Nelsinho tratou logo de adaptar-se à nova realidade e às normas de um colégio onde as vagas eram muito disputadas. Sabia que para estar lá o pai teve de usar o prestígio de amigos influentes na capital paulista, dentre eles o industrial Nadir Figueiredo, fundador da empresa Nadir Figueiredo Indústria e Comércio S.A., grande fabricante de artigos de vidro, como o famoso “copo americano”, o mais usado no país para se beber cerveja.
Cumprido o ano letivo no Mackenzie, Nelsinho retornou ao Colégio Antônio Vieira, onde sempre foi o melhor aluno da classe. Nas solenidades das entregas das medalhas, José Taboada sempre comparecia, orgulhoso com o desempenho do neto. Concluiu o científico, numa turma composta por 22 estudantes: Adolpho de Faro Rollemberg, Agenor Gordilho Simões, Antônio Araripe Barbosa Filho, Antônio Joaquim Araújo Filho, Antônio Rossetti, Ary Gomes, Augusto José de Almeida Magalhães (orador), Frederico Lobato Tavares, João Carlos Vieira da Silva Teles, Juracy Ferraz de Oliveira, Juracy Magalhães Chagas, Lindolfo Nunes Santos, Luís Carlos Alencar Barbosa, Manoel Bispo dos Santos, Mário Jorge Gesteira Fonseca, Moacyr Araújo de Carvalho, Natanael Acácio Rodrigues, Nelson Almeida Taboada, Orlando de Salles Senna, Raimundo Andrade de Aquino, Reinaldo Barreto Rosa e Roberto Cortizo Justo.
Em seguida, Nelson enfrentou um disputadíssimo vestibular e ingressou na Faculdade de Ciências Econômicas da Ufba. Foi o primeiro neto de José Taboada Vidal a receber o diploma de nível superior. Com a paraninfia do ministro Antônio de Oliveira Brito, das Minas e Energia, a solenidade da colação de grau dos formandos realizou-se no auditório da Reitoria da Ufba, em 18 de março de 1964.
Os 37 bacharéis da turma de 1963
Ademar Roberto Lopes de Araújo, Amaury de Nazareth Magno, Bárbara Hercog, Carlos Thadeu Veiga Garcia, Célia Costa Guimarães, Cleuza Catarina Cerqueira Lima, Clóvis Nabuco de Campos, Dímpino da Purificação Carvalho, Edmundo Colombiano dos Santos, Ely de Oliveira Rosa, Evaristo Boulhosa Gonzalez, Fernando Alves Ferreira Júnior, Fernando Antônio Sodré Faria, Gileno Adolfo dos Santos Castro, Iêda Miriam Novais, Jairo Simões, Jiro Kawase, João Alberto Pereira Lopes, Jorge Loureiro Freire, José Alves, José Lisboa, José Savastano Filho, Manoel de Andrade, Maria Sampaio Leal, Maria de Sena, Maria José Costa Guimarães, Maria Regina Cunha, Moacir João Barreto, Nelson Almeida Taboada, Ricardo Rubeiz, Sérgio Luiz Vieira (orador), Sílvio Roberto Coelho, Sônia de Santa Rosa Dias, Victor Djmal, Waldeck Souza Sacramento e Walter Sequeiros Rodrigues Tanure.
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